A arte coreana do século VIII é um testemunho vibrante da fé budista que permeava a península. Entre os mestres anônimos que esculpiram em pedra, madeira e metal a devoção ao divino, destacam-se as obras dedicadas aos bodhisattvas. Essas figuras iluminadas, comprometidas com a salvação de todos os seres, inspiram reverência e fascínio até hoje.
No coração deste período artístico, encontramos uma escultura particularmente marcante: o “Bodhisattva Avalokiteshvara” - um exemplo sublime da arte Baekje (um dos três reinos da Coreia antiga) e um tesouro nacional da Coreia do Sul. Esta obra-prima, esculpida em granito, representa o bodhisattva da compaixão, conhecido também como Guanyin na cultura chinesa e Kannon no Japão. Avalokiteshvara personifica a misericórdia universal e a busca incansável pela libertação de todos os seres sencientes do ciclo incessante de nascimento e morte.
A Presença Tranquila de um Deus Compassivo
A escultura de Avalokiteshvara exibe uma postura serena e majestosa, com o corpo levemente inclinado para frente em sinal de atenção e compaixão. Seus traços são delicados, mas bem definidos, transmitindo uma expressão suave e benevolente. Os olhos, parcialmente fechados como se em profunda meditação, parecem penetrar a alma do observador, convidando-o à introspecção e à contemplação.
Avalokiteshvara veste túnicas fluidas que envolvem seu corpo com graça e elegância. As dobras das roupas são meticulosamente esculpidas, evidenciando a maestria técnica do artista. Suas mãos são posicionadas em um gesto conhecido como “mudra” – a posição das mãos que simbolizam diferentes estados mentais ou ações espirituais. Neste caso, Avalokiteshvara segura a “mudra de dhyana,” indicando profunda meditação e concentração.
Detalhes Intrigantes que Revelam a Essência Divina
A escultura apresenta detalhes intrigantes que aprofundam sua significância simbólica:
- Coroa elaborada: A coroa de Avalokiteshvara, ricamente ornamentada com flores de lótus e outros elementos simbolizando pureza e iluminação.
- Joias sacras: Os brincos e as pulseiras do bodhisattva são adornados com pedras preciosas, representando a riqueza espiritual e a nobreza interior.
- Base de lótus: Avalokiteshvara está erguido sobre um pedestal em forma de lótus, símbolo de pureza, renascimento e ascensão espiritual.
Uma Jornada Espiritual Através da Escultura
A obra não se limita à representação fiel de um ser divino; ela convida o observador a uma jornada espiritual. Ao contemplar a serenidade do rosto de Avalokiteshvara, a beleza das suas vestes e a postura atenta que transmite compaixão, sentimo-nos atraídos por uma força interior. A escultura desperta em nós o desejo de conectar-nos com nossa própria natureza compassiva e buscar a iluminação.
Comparando Estilos: Baekje versus Silla
A arte coreana do século VIII floresceu nos três reinos – Baekje, Goguryeo e Silla. Embora houvesse similaridades, cada reino desenvolveu um estilo próprio. A escultura de Avalokiteshvara, atribuída ao período Baekje, apresenta características distintivas:
Característica | Baekje | Silla |
---|---|---|
Estilo facial | Suave, gentil, com traços delicados | Mais expressivo, com traços marcantes |
Posture | Geralmente elegante e serena | Pode ser mais dinâmica ou imponente |
Roupas | Simples, fluidas | Ornamentadas com detalhes complexos |
Preservação e Legado:
A escultura de Avalokiteshvara é um testemunho vivo da rica herança artística coreana. Atualmente, encontra-se preservada no Museu Nacional da Coreia, em Seul. Sua presença imponente continua a inspirar admiração e reflexão em visitantes de todo o mundo.
Reflexões Finais
A escultura do “Bodhisattva Avalokiteshvara” transcende a mera representação artística; é um convite à contemplação sobre a natureza da compaixão e a busca pela iluminação. A maestria técnica do artista, combinada com a profunda mensagem espiritual da obra, faz dela uma preciosidade incalculável do patrimônio cultural coreano.
Ao observarmos a beleza serena de Avalokiteshvara, permitimo-nos ser tocados por sua energia benevolente e convidamos a compaixão a florescer em nossos corações.